Outro dia aconteceu uma coisa engraçada demais comigo. Eu estava andando na linda Avenida Paulista, aqui em SP, quando um completo desconhecido me abraçou. Imagina se ele não me pegou de surpresa! Quase desconfiei de assalto. Depois é que fui descobrir que existe até ONG pregando que a gente precisa abraçar mais uns aos outros e que o cara estava ali defendo essa filosofia, firme e forte na decisão de pegar quem estivesse passando, fosse quem fosse, para um aperto entre os braços. Passado o medo, a vergonha, o susto, acabei achando a história tão bonita, tão bonita, que resolvi contá-la aqui. Tudo bem, não me converti “ainda” ao movimento e nem estou passando parte dos meus dias numa esquina, para provar o bom que é abraçar e ser abraçada. Mas até gostaria de fazer isso. Você mesma, que está lendo: não tá precisando de um abraço apertado? Aposto que sim!
Isso porque abraço é um negócio gostoso mesmo! Mas pensa: se deixar, a gente vai abraçando a galera de um jeito tão automático, tipo escovar os dentes, que vira apenas mais um gesto sem sentido. A gente acaba abraçando porque faz parte do protocolo, sem perceber que tá ali uma oportunidade de dar e de receber muito.
Afinal, um abraço é capaz de muitas coisas. Serve bem como um “desculpa aí” depois que a gente pisa na bola. Também faz as vezes de um lindo discurso, quando um amigo precisa de um apoio, mas a gente não sabe direito o que dizer. E, principalmente, ele vale como um bom substituto para um sonoro “eu te amo”.
Eu, até ser pega sem querer pelo abraçador biruta, tinha até me esquecido de todas as aplicações desse carinho. Mas na hora me lembrei e agora fico tentando me policiar para abraçar mais e, principalmente, abraçar de verdade.
Então, se alguém resolve me estender os braços, faço questão de prestar atenção naquela troca, abraço com todos os sentidos - ou com a alma, como alguns diriam.
E, mais que isso, também aprendi a pedir um abraço quando preciso. Essa também parece fácil, mas não é. A gente prefere arrumar briga com o namorado se está carente, quando bastaria dizer: “Me abraça”. Do mesmo jeito, acabamos dando uma de rebelde em casa, quando o que mais precisamos é de um simples carinho dos pais.
Ser abraçada é como receber um combustível novo, pra continuar com o astral lá em cima. É como perceber, sem a necessidade de palavra, que somos importantes, queridas e que temos alguém com quem contar, não importa a dificuldade que estamos enfrentando.
Ficou com vontade? Uma boa pedida é sair por aí abraçando quem você ama, pois é sempre melhor agir do que esperar que os outros adivinhem o que estamos sentindo. Marque um encontro com seus amigos virtuais, espere até que a família inteira se reúna, hoje à noite, e promova o seu movimento pelo abraço. Assim, quem sabe, eles também sintam uma vontade louca de abraçar os outros amigos deles e a gente comece uma corrente do bem. Daí, pessoas como o maluco que me abraçou na Paulista não precisarão mais existir. Porque a importância do abraço nunca mais será esquecida. E o mundo, certamente, vai ser um lugar melhor para se viver, quando esse dia chegar.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Sofrer é bom?
Experimenta dizer pra uma amiga sua que você está péssima, que tudo deu errado e que anda precisando de um ombro. Aposto ela vai sentar e chorar as pitangas com você. Se o seu problema for um ex, capaz até de ela começar a contar do último namorado dela, como se quisesse convencer você de que podia ser pior. Por outro lado, se disser à sua amiga – qualquer uma delas – que está feliz, radiante, que gosta da sua vida exatamente como ela é, pode ser que ela estranhe e ache que você anda meio maluca. Isso porque, infelizmente, quem vive na boa e deixa isso transparecer, hoje em dia, é uma minoria. Duvida? Faça o sacrifício de assistir a um telejornal inteirinho. Entre dezenas de histórias pra lá de trágicas, de assassinatos, roubos, mortes, furacões e tempestades, talvez sobre uma ou duas de gente que fez coisas legais ou que se deu bem. Dizem que o sofrimento dá mais ibope. E não é que é verdade? Pensa bem: você olha com o mesmo interesse para uma batida daquelas no trânsito e para uma borboleta que, do nada, resolve pousar no vidro do seu carro? Pois é. O problema é que, de tanto olhar sofrimento, catástrofes, violência, periga a gente esquecer que a vida também é feita de poesia.
E mais: de tanto cultivar a dor, ela acaba meio que perdendo o sentido. Tipo: a gente chora vendo as vítimas de um tal desastre natural na TV. Mas não se emociona quando passa perto de um mendigo, que vive na esquina da nossa casa. Faz sentido isso?
O sentimento de compaixão, que nos faz dizer “nossa, coitado do fulano”, não é de todo ruim. A gente só sente dó dos outros porque consegue se imaginar no lugar deles. O que eu acho chato nessa lamentação toda é o que vem depois. E o que vem depois? Nada! Parece papo de doido? Eu explico: na maioria das vezes, apesar de chorarmos lágrimas de crocodilo pelo sofrimento dos outros, quase nunca transformamos isso em algo produtivo, não pensamos em maneiras de aliviar aquela dor do outro. Sentimos pena. E só.
Até quando a dor é nossa, a gente faz de tudo pra fugir, demora horrores pra termos coragem de enfrentar o problema que está nos fazendo ficar cada dia pior. Tenho um exemplo bom: o do fora. Quem nunca levou uma dispensada e, no dia seguinte, passou horas trancada no quarto, ouvindo música lenta e lembrando as últimas palavras do pretê? É como se fosse uma tortura que aplicamos a nós mesmas!
Agora, imagine se a gente pudesse fazer diferente – e a gente pode! Então, quando uma amiga viesse reclamar da vida, tentaríamos animá-la, em vez de contar casos ainda mais dramáticos. Ao ver que alguém – qualquer pessoa – está em sofrimento, faríamos o possível para ajudá-la, mesmo que a nossa contribuição seja minúscula (em muitos casos, um sorriso ou um abraço salvam o dia de quem acordou achando que a vida não fazia mais sentido). Ah, e quando a dor fosse nossa, o primeiro desafio seria descobrir onde foi que nos machucaram, para resolver de imediato a questão.
Logo, se sofrer é inevitável, aliviar a dor – a nossa e a dos outros - é sempre a melhor saída. Então, que tal tentar fazer isso mais vezes?
E mais: de tanto cultivar a dor, ela acaba meio que perdendo o sentido. Tipo: a gente chora vendo as vítimas de um tal desastre natural na TV. Mas não se emociona quando passa perto de um mendigo, que vive na esquina da nossa casa. Faz sentido isso?
O sentimento de compaixão, que nos faz dizer “nossa, coitado do fulano”, não é de todo ruim. A gente só sente dó dos outros porque consegue se imaginar no lugar deles. O que eu acho chato nessa lamentação toda é o que vem depois. E o que vem depois? Nada! Parece papo de doido? Eu explico: na maioria das vezes, apesar de chorarmos lágrimas de crocodilo pelo sofrimento dos outros, quase nunca transformamos isso em algo produtivo, não pensamos em maneiras de aliviar aquela dor do outro. Sentimos pena. E só.
Até quando a dor é nossa, a gente faz de tudo pra fugir, demora horrores pra termos coragem de enfrentar o problema que está nos fazendo ficar cada dia pior. Tenho um exemplo bom: o do fora. Quem nunca levou uma dispensada e, no dia seguinte, passou horas trancada no quarto, ouvindo música lenta e lembrando as últimas palavras do pretê? É como se fosse uma tortura que aplicamos a nós mesmas!
Agora, imagine se a gente pudesse fazer diferente – e a gente pode! Então, quando uma amiga viesse reclamar da vida, tentaríamos animá-la, em vez de contar casos ainda mais dramáticos. Ao ver que alguém – qualquer pessoa – está em sofrimento, faríamos o possível para ajudá-la, mesmo que a nossa contribuição seja minúscula (em muitos casos, um sorriso ou um abraço salvam o dia de quem acordou achando que a vida não fazia mais sentido). Ah, e quando a dor fosse nossa, o primeiro desafio seria descobrir onde foi que nos machucaram, para resolver de imediato a questão.
Logo, se sofrer é inevitável, aliviar a dor – a nossa e a dos outros - é sempre a melhor saída. Então, que tal tentar fazer isso mais vezes?
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